domingo, 30 de junho de 2019

semáforo













1. faço do brilho fátuo o semáforo da existência

2.  faço do grito o limite duma evasão demitida .o futuro é mais perto se o presente se perde





eufemismo













1. de eufemismo em eufemismo deflicto fantasias e sonatas antes de me concentrar no crocitar devastado das aves .dessedento-me

2.  deixo o meu lugar marcado no rascunho dos epitáfios





sábado, 29 de junho de 2019

sombra













1. como o mistério do nascer primeiro ,a harmonia da borboleta paira sobre o excesso do verbo .assim o voo

2.  de azul cobrirei a sombra do meu silêncio .não ouso





bordão













1. somos o tempo em que o silêncio se veste de memórias in.questionáveis .somos o vento

2.  vem com a brevidade do acróstico ,trazer um pouco de azul ao sol do meu bordão





sexta-feira, 28 de junho de 2019

nómada














1. se me perder na encruzilhada ,procurarei ,como rumo ,o canto da tua nómada voz

2.  se me tiver depois ,não hesitarei em alvitrar o esquecimento na página do meu obituário





dobra













1. quedo-me na instância do momento seguinte .invento-o

2.  quem bordará o tempo na dobra do meu capote?





quinta-feira, 27 de junho de 2019

adorno













1. deixarei na palma da tua mão um ramo de begónias que alguém esqueceu sobre a mesa .serei breve

2.  não acredito em falsos adornos .sou asceta






rotina













1. antes ,rendilhavam-se gestos de navegar rotinas

2.  alguém ousou deixar um cântico sacro na minha mochila .tive pressa do regresso





quarta-feira, 26 de junho de 2019

contenção













1. amanhã ,espero que seja tarde para a persistência do erro .hoje ,cativo-o no espaço da memória

2.  amanhã trarei palavras magnas para em nostálgica contenção deixar um pouco de sol sobre a mesa





dúvida













1.  à espera de um entendimento entre a luz e o silêncio

2. aguardam-se melhoras nas horas mortas .tardam os sorrisos .ainda choram as dúvidas do amanhã .apronto-me





terça-feira, 25 de junho de 2019

desdobramento













1. agora é tarde .a noite do meu esquecimento inscreve-se ,devagar.mente ,no medo do meu desdobramento 

2.  desde a desistência que me escuso à ternura .torno-me excessiva





segunda-feira, 24 de junho de 2019

curva













1. um futuro rasurado pelo medo .um ser disperso .um objecto que no presente se insurge em curva descendente

2.  ao des.figurar o vazio dessedentei o prazer de ensandecer o roçagar das ondas





sábado, 22 de junho de 2019

futuro













1. talvez já seja demasiado tarde para emoldurar imagens em excesso

2. talvez o futuro não seja mais do que bater a porta ao presente






carência













1. remeto o excesso para além do medo .careço de novas escalas de lirismo
2. reservo aos poetas a  saudade do futuro .sou ,assim ,um pouco mais autêntica






sexta-feira, 21 de junho de 2019

reclusa














1 .quando se desintegram os corpos ,restam os lugares

2 .recolho-me na concha do grito .sem forma ,sem corpo ,sem voz .apenas reclusa do medo de um amanhã sem forma penitencial .reclamo-me






quinta-feira, 20 de junho de 2019

traço







1. não grassa a ternura numa mão cheia de nada .apenas traços

2 .não hesito .prescrevente de acasos ,traço sombras como sustos de memórias





quarta-feira, 19 de junho de 2019

hipotenusa











1. nada a mais senão o murmúrio do vento .na minha mão

2.  não é preciso entender o signo quadrado da hipotenusa .hoje impera a im.precisão das espécies






síntese













1 .já fomos e seremos sínteses dispersas de murmúrios ,fugas e encontros anunciados à margem do silêncio

2 . mais perto do engenho ,há memórias dissonantes que se perdem na distância






terça-feira, 18 de junho de 2019

rascunho













1 . finjo a opacidade do medo no silêncio do teu afago .e fujo

2 .hoje ,em dia de ser criança ,despeço-me dos meus lugares de lonjura .marco um novo lugar ao rascunho






segunda-feira, 17 de junho de 2019

staccato












1 .é urgente fazer dos momentos intemporais a errância dos lugares devastados

2 .em staccato resguardo o crocitar abafado do corvo ,como um sussurro de alto






contra-luz












1.impossível rasgar ,no grito perverso de um sono im.perfeito ,as páginas bordadas a contra-luz

2.é já agora que o amanhã nos bate à porta






sábado, 15 de junho de 2019

filigrama












1. abrem-se páginas de espanto sob as acácias em flor .depois o vento fechou a boca e soaram as trombetas dos olhos livrados

2.  aflora a chama à filigrama reclusa do silêncio





sexta-feira, 14 de junho de 2019

.de jure







deito fora os grávidos das palavras absolutas e repousada na cama breve do acaso ,adocico em voz grave o breviário dos escreventes em falência .elevo-o à lógica dos servidores da glosa já que a ninguém interessa o sentido ousado dos cantos .a viagem é curta ,filados que estão os dentes nas biografias dos vagamundos .há ,mesmo assim ,para disfarçar a vergonha ,quem pratique um pouco de rebeldia .quem prefira um tanto mais de arrojo ,cansado da eloquência dos mimicamente arquivados em arritmias de primeiros planos .de jure .são os Asmodeus do presente .os que recusam passar as mãos sobre a cegueira ou decepar resistências .escusam-se à sombra de espaços de reclusão ,oclusa a palavra em festins de amnésia.......








1. ........na sonoridade do vento